Chico Chapéu Filho: A Voz que venceu o silêncio
Prepare-se para conhecer a história de um homem simples, mas de alma grande.

CONVERSANDO COM CHICO CHAPÉU FILHO
Márcio Morais
@marciomoraisrn
No quadro “Conversando Com” desta semana, o Portal O Vale do Apodi tem a honra de apresentar uma conversa emocionante e inspiradora com Chico Chapéu Filho — radialista, escritor, poeta e símbolo de superação no município de Martins no Médio Oeste do Rio Grande do Norte.
Em um bate-papo conduzido pelo jornalista Márcio Morais, Chico fala sobre os desafios enfrentados desde a infância, a ausência de escolaridade formal, a luta contra limitações físicas e, acima de tudo, a conquista dos seus sonhos por meio da fé, da perseverança e do dom natural para a comunicação e a escrita.
Prepare-se para conhecer a história de um homem simples, mas de alma grande. Chico compartilha suas dificuldades, os sonhos que conseguiu realizar e mostra que, mesmo com limitações físicas, vive feliz e é grato a Deus pela vida.
Confira a trajetória de superação e fé de Chico Chapéu Filho.
Chico Filho, entre palavras e superação.
O Vale do Apodi – Chico, como foi o seu primeiro contato com a comunicação? O que te motivou a entrar no rádio?
Chico Chapéu Filho – Meu pai Chico Chapéu (In memoriam), foi meu primeiro incentivador, quando eu, ainda menino, acordava de madrugada ao som de um velho rádio de mesa, ligado por ele; pra mim, eram tudo muito mágico, aquelas vozes, que me faziam pensar que aquela caixa faladeira estivesse cheinha de gente. Tornei-me rapaz, e minha paixão pelo rádio só aumentava; foi quando aos 19 anos fugi de casa para Mossoró e lá tentei ingressar no rádio, sem sucesso, depois de 10 anos voltei para Martins, minha terra, e em 1996 Deus permitiu que eu começasse na Rádio Minha Vida FM, à época, Rádio Vida.
O Vale do Apodi – Você se lembra da sua primeira vez no ar? Como foi essa experiência?
Chico Chapéu Filho – Lembro cada instante, uma experiência ímpar, uma alegria imensurável, na verdade, não tinha noção da gigante responsabilidade que era falar numa rádio, também não levavam em consideração as inúmeras pessoas que me ouviam; mas era muito gostoso com até hoje é, fazer rádio.
O Vale do Apodi – Quando nasceu seu interesse pela escrita?
Chico Chapéu Filho – Por ser deficiente físico, não tive possibilidade de ir à escola, então o meu pai trabalha no Grupo Escolar Almino Afonso, trazia livros para me distrair olhando as ilustrações, assim, foi despertando em mim, o desejo de saber o quê aquelas páginas contavam.
Sem escola, mas com alma de esctiror
O Vale do Apodi – Que tipo de obra você mais gosta de escrever? Contos, crônicas, poesia?
Chico Chapéu Filho – Por achar o ser humano, um poço de inspiração, amo explorar esse tesouro filosófico; mas também componho poesias, cordéis, crônicas, até letras de músicas kkkkkk, mas em sua totalidade, com essência filosófica.
O Vale do Apodi – quantos livros você já lançou?
Chico Chapéu Filho – Três livros lançados: Filosofia de Um Burro, com as memórias de um pensador; O Prazer na Loucura de Pensar; Filosofia de Um Burro II, com as memórias de um pensador.
O Vale do Apodi – Como foi o processo de entrada na Academia de Letras e Artes de Martins? O que essa conquista representou pra você?
Chico Filho, uma voz que vai além do microfone.
Chico Chapéu Filho – Em março de 2014, fui convidado pela Dra. Taniamá Barreto, presidente da Academia. Foi um processo simples, porém com muita responsabilidade. Faz-se necessário compreender que ser acadêmico, é importante não para seu ego, é algo maior; fomentar a cultura e os saberes, acolhendo com abraço inclusivo todas as manifestações culturais, onde respeito e valorização ao ser, são colocados em evidência, por isto, me sinto honrado em fazer parte da Academia de Letras e Artes de Martins-ALAM.
O Vale do Apodi – Você é um exemplo de superação. Como a deficiência física transformou sua visão de mundo e sua relação com o trabalho e a sociedade?
Chico Chapéu Filho – O ser humano é convidado pela vida, a mudar-se de posição, olhar para outras direções, contemplar outras paisagens, caminhar em direção ao melhoramento; não permitir que o pessimismo o arraste ao caos, se achar sempre capaz de mudar o cenário, pintar os momentos, os dias, a vida com belas cores, independentemente de ter uma deficiência ou não, mas afinal, o que é ser deficiente? Tenho consciência que sou uma pessoa com deficiência, porém jamais me enxerguei incapacitado; com limitações sim, assim como todo mundo.
O Vale do Apodi – Que desafios você ainda enfrenta como pessoa com deficiência no interior do RN?
Chico Filho, Jamais me enxerguei incapacitado por ser deficiente.
Chico Chapéu Filho – Obrigado, caro amigo Márcio Morais, por fazer esta pergunta, me dando oportunidade de falar não só por mim, mas por milhares de pessoas com deficiência. Os desafios são incontáveis, a começar pela falta de respeito e consideração das autoridades políticas e uma grande parte da sociedade para com o público com mobilidade reduzida, no tocante à acessibilidade. Ruas esburacadas, calçadas não existem, rampas nem pensar, é uma vergonha. Espero um futuro mais acessível.
O Vale do Apodi – Em determinado momento, você decidiu entrar na política, sendo candidato a vereador. O que te levou a tomar essa decisão?
Chico Chapéu Filho – No mundo, tem aquele (a) que está na arquibancada, assistindo os acontecimentos; não gostando, reclamando, mas não tem condições de mudar o quadro, e tem aquele (a) que se cansa de só reclamar e decide sair da posição de telespectador para tentar fazer algo em prol de melhoras; pensando assim, ingressei na política partidária, me candidatei, mas me empurraram de volta à arquibancada kkkkkkkk
O Vale do Apodi – Mesmo sem ter sido eleito, que aprendizado você tirou dessa experiência?
Chico Chapéu Filho – Não nasci para a política partidária; aliás, é como o próprio nome diz “partidário”, assim sendo, é partida, dividida. Gosto da Política inteira, é esta a Política que pratico, com “P” maiúsculo.
O Vale do Apodi – Você ainda tem planos de disputar uma eleição novamente?
Chico Chapéu Filho – Não! É extremamente desgastante, tem que barganhar, deixar de lado seus propósitos, mesmo os mais honestos, é forçado a dançar no ritmo orquestrado pelos interesseiros (as) que não estão nem aí para a verdadeira política.
O Vale do Apodi – O que Martins representa na sua vida pessoal e artística?

Chico Chapéu Filho – Minha pátria, o berço onde nasci, onde meus pais nasceram.
O Vale do Apodi – Como você vê a valorização da cultura e da literatura na região Oeste?
Chico Chapéu Filho – Vejo com bons olhos! Está se abrindo um leque de oportunidades, valorização de fato aos artistas, respeito e acolhimento às diversidades culturais; quanto à literatura, acredito que é preciso incentivo maior, porque literatura não é só escrever, é necessária a existência do leitor, do contrário, a literatura enfraquece e morre.
O Vale do Apodi – Que conselho você daria para jovens que sonham em ser comunicadores, escritores ou que enfrentam algum tipo de limitação física, mas desejam seguir em frente?
Chico Chapéu Filho – Não conselho, mas mensagem. Viemos a este mundo para construir, não importam as ferramentas disponíveis, e não alimente a ilusão de quê tudo tem que ser perfeito. Crescemos, melhoramos com as dificuldades; podemos ser o que quisermos.
Sou grato a você, pela riquíssima oportunidade de participar desta entrevista, e aproveito para agradecer o presente de mais um volume do “Por Trás Das Grades”, um trabalho literário excelente. Você, Márcio Morais, é um ser humano excepcional. Deus te abençoe e abençoe os (as) seus (as) leitores (as).